A não-mumificação
Valorizar o passado é uma característica minha. Não quer dizer que viva nele ou dele. Conheço os velhos provérbios, clichês que falam a respeito e concordo com eles. Acontece que também não sou do tipo que queima cartas, embrulha objetos, presentes, fotos e joga tudo num saco plástico preto (no meu caso, como sou ambientalista, seria uma sacola vermelha biodegradável) pra só mexer depois de dois, três anos. Eu cutuco a ferida várias vezes pra sangrar bastante. E como tudo nessa vida é relativo (Einstein que me perdoe, mas adoraria que essa colocação fosse minha!), em algum momento, a dor não vai mais ser sentida.
Diferente de quem (pensa que) se preserva, eu não uso curativo. Nem mesmo aqueles com maior oxigenação. Motivo: Se, de repente, uma lembrança qualquer surgir (materializada, abstrata, musicada, etc.) sem aviso prévio, lá vai a camada fina de pele - futuro cascão - ser arrancada à força e a dor (até então cessada) dar às caras novamente. Sabe lá quantas vezes, até o acaso decidir: "é chegada a hora da cicatrização". Eu não. Prefiro me expor. Até as impurezas do meio colaboram na criação de anticorpos para os próximos ataques...
Comentários