Acorda



Há exatamente 365 dias, eu também postava às vésperas da maior manifestação religiosa da América Latina (e maior cristã do mundo): http://flaviaescarlate.blogspot.com/2009/10/cirio-outra-vez-pe.html.

De lá para cá muita coisa mudou (em diversos aspectos: pessoal, profissional, acadêmico). Pessoas que jamais imaginei que fossem embora simplesmente foram. Outras se apresentaram no palco da minha vida. Emprego novo, novas perspectivas, alguns velhos sonhos readaptados às novas condições. Agora falta um pouco mais de um ano pra eu me formar e fechar mais um ciclo.

Continuo chorando pela vozinha quando conto suas peripécias, escuto uma música bonita ou simplesmente lembro do amor que me dedicava, de um jeito que era só dela. Outubro a torna mais forte em mim, principalmente ao escutar "Círio outra vez" do Pe. Fábio. A devoção e fé que ela tinha é meu legado. A linda imagem de Nossa Senhora de Nazaré que ganhei num sorteio teria trazido um brilho a mais aqueles olhinhos. *lágrimas*

Em quase todo canto do mundo, o ano novo é um momento de renovação no qual fazemos novos votos (ou os de sempre), lembramos de tudo que fizemos durante o ano, nos auto analisamos e prometemos fazer tudo melhor no ano seguinte, abandonando os velhos erros, desatando alguns nós e começando do zero. Aqui também fazemos isso durante o Círio. Estou fazendo isso agora.

Para algumas pessoas eu nunca mudarei. São aquelas que rotulam, que julgam mais do que analisam e pensam tão linearmente que são incapazes de detectar as oscilações da vida. A vida não é linear como essas pessoas o são. A vida nos apresenta facetas diferentes a cada amanhecer. Eu tenho o dom de percebê-las e senti-las. 

Sou como a chama de uma vela. Se a casa está trancada, ninguém entra, ela está calma. Mas se alguém abre a porta ou a janela e passa por perto, ela balança... sem jamais apagar (minha energia também é renovável). Minha sina, meu carma ou meu presente de Deus. Eu me permito conhecer novas cores, novas realidades e - ainda assim - estar presa ao passado de alguma forma. Porque sei o que realmente me importou e ainda me importa nessa vida. 

Mas... sempre tem o outro lado da moeda e aliado a qualquer dom... Novas realidades me fascinam e me atraem. "Portas são feitas para serem abertas", pensaria Alice. Infelizmente, uma vez aberta uma porta, fica difícil enxergar a realidade anterior da mesma forma. Tal qual Sócrates no "Mito da caverna" (só para constar: sei que o mito é de Platão, mas me refiro ao protagonista da história e não ao autor). Meu desafio é descobrir se devo continuar abrindo as portinhas e correndo pelo país das maravilhas atrás de um coelho que está sempre atrasado (é a tendência de quem não se conforma em fazer uma coisa só e tenta várias ao mesmo tempo) ou  se o certo é resistir a elas e passar o resto da vida dentro de uma só realidade.

Quem sabe entrar nas portas, sem me deixar seduzir pelas novas paisagens...

Reflexões à parte, hoje sou mais livre que a um ano atrás. Estou liberta de mim mesma, de alguns medos, preconceitos. Enquanto no post do dia 09/10/2009 estava prestes a fazer 25, neste estou prestes a fazer 26 (é, não tenho vergonha de dizer minha idade. Ainda...rs) e é incrível como um ano pra mim faz tanta diferença! É como se meu reloginho interno não seguisse o tempo cronológico e 1 mês representasse 1 ano, 1 ano representasse 2 e por aí vai.

Dentre algumas músicas católicas, eu escolhi uma para postar aqui hoje. Porque uma das lições deste ano foi exatamente essa: "quanto maior tua graça, maior tua responsabilidade". Sou uma pessoa muito afortunada, mas o excesso de bençãos, de amor que sempre tive me faz ainda mais humana e passível de erros. "E que minha loucura seja perdoada. Porque metade de mim é amor e a outra metade também." (Oswaldo Montenegro)

Ao coração 
(Pe. Fábio de Melo)

Deus me entregou bem mais do que mereço


Talvez seja por isso que eu me cobre um pouco mais





Não que eu não seja capaz
Mas, às vezes, é difícil

Nem sempre eu sei fazer, o bem que eu desejo
E, às vezes, eu me vejo
Me enganando sempre mais
Não que eu não queira acertar
Mas nem sempre é possível

Já me condeno tanto
Pelos erros que na vida eu cometi
Pelas vezes que eu não soube decidir
E assim, meu coração gritava, desespero de quem ama
Coração, tu que estás dentro em meu peito
Me condenas desse jeito
E eu não sei por qual motivo
Só te peço, por favor, eu sou humano
Não me condenes assim

Humano eu sou assim: virtudes e limites
Se agora me permites
Eu aprendo ser feliz
Sem prender-me ao que não fiz
Mas olhando o que é possível

A dor que, às vezes, vem
Me faz feliz também
Pois ela me recorda o valor que tem a cruz
Quando a noite esconde a luz
Deus acende as estrelas


Feliz Círio a todos (até aos não paraenses)! Que a corda acorde o coração de quem mais precisa neste momento. Viva Nossa Senhora de Nazaré! \o/

Comentários

Paula Farias disse…
Feliz Círio Flávia! Que Deus, Jesus e Nossa Senhora de Nazaré abençõe você sempre!

Beijos!
Flávia Lima disse…
Obrigada Chrys! Hoje vi a santinha de muito perto (trabalhei no Círio e nem dormi de ontem pra hoje). Chorei muito, me emocionei demais... inexplicável a sensação. Só quem é paraense entende...
Beijos no coração!

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