Amar (de)mais ou (de) menos?
Uma amiga liga chorando. Você atende assustada, pergunta o que aconteceu, esperando uma história no mínimo trágica. "Amiga, ele me traiu com a vizinha!". Irritada, você não demonstra a menor compaixão. Acha um exagero todo aquele drama e acaba dizendo coisas superficiais e práticas: "não chore, coma chocolate, compre um vibrador". Não é maldade, mas o ceticismo avisa que em menos de 24 horas eles estarão bem novamente e daqui a dois anos ela apenas lembrará que namorou um cara que usava cueca amarela e colecionava latinha de cerveja.
No trovadorismo, os cavaleiros apaixonavam-se pela esposa do senhor feudal e escreviam-lhe poemas chorosos, mesmo sem um fio de esperança em, um dia, tê-la. Mas era moda. Era bonito. No romantismo, os poetas desejavam morte a cada desilusão, seus assuntos oscilavam entre amor eterno e melancolia profunda. Mas era moda. Era bonito.
Dizem que a moda contemporânea é curtir sem se envolver. Discordo. Acho, inclusive, que amamos até demais. Sabe o lema Cazuzístico "adoro um amor inventado"? Morrer de amores, sim. Só que não mais pela nobre donzela da corte e sim por uma pessoa diferente a cada três, quatro semanas. É mais prático. Menos pesaroso. Dizer "eu te amo" ao Cláudio, à Roberta, ao Charles, à Fernanda, é normal. Pois cada nova paixão parece maior que a anterior e pode ser o grande amor de nossas vidas. Será?!
Os feudos hoje são multinacionais. Os senhores feudais, multimilionários. Os trovadores, como canta Rita Ribeiro, "são tipos populares que vivem pelos bares". Homens comuns espalhados pela cidade repleta de corações à deriva. A senhora feudal é a loira siliconada que participou do BBB, ficou famosa, casou com um jogador de futebol, divorciou-se pouco tempo depois (podre de rica) e agora aparece nas colunas sociais com outro.
Estamos mais frios ou finalmente achamos a fórmula da felicidade? Os relacionamentos acabam mais rápido para que aproveitemos mais a vida? Se amamos (de)mais ou (de) menos, realmente não sei. Talvez nem saibamos ao certo o que é amar.
Comentários
Quanto a mudança constante de paixões vemos que a s pessoas não querem mais que os casamentos/relacionamentos sejam eternos, como no tempo em que a sociedade considerava o divórcio um tabu, e as pessoas ficavam presas em relacionamentos insalubres. Entretanto esperam que os parceiros de hoje se comportem como os de antigamente. E que o eu te amo torne-se uma declaração de prisão perpétua. Querem ser livres para abandonar o barco quando consideram que estão no rumo errado, mas não aceitam que o companheiro tente mudar a rota ou trocar de embarcação. Talvez o problema não seja o amor ou a paixão, talvez seja tudo uma questão de egoísmo exacerbado.
Um abraço moça.