Sem inspiração estou agora. Tento atiçar a imaginação mas ela demora. Não consigo pensar em algo que faça rimas. É como querer acertar o alvo com a flecha apontada para cima. Não acho um bom assunto que se organize bem em versos. Mesmo sabendo que no mundo há mil assuntos diversos. Que coisa chata, não consigo imaginar. Isso quase me mata, porque é horrível não poder pensar.
Mas espere um momento, mesmo não tendo um tema, se estas frases vou relendo, vejo que é um poema!
Cada um de nós tem um mundo diferente. É como um código genético ou uma impressão digital: Insubstituível. Apesar de compartilharmos sensações e vivências, temos nosso próprio conjunto de células e sinapses. Ninguém jamais saberá como é estar em nossa própria pele. A união de tudo, de todas as percepções, se dá para cada ser de forma única. É daí que vem o prazer em fazer novos amigos. Conhecer alguém é como fazer ou receber uma visita . Alguns tiram o sapato antes de entrar, outros simplesmente vão invadindo. Alguns parecem médicos. Outros, demoram uma vida inteira. Em alguns casos a conversa tá boa, a companhia agradável, mas por um motivo qualquer, é hora de ir embora . A paixão traz consigo lógica semelhante: Primeiro rola profundo interesse em conhecer aquele ponto turístico, cultura, clima. Você arruma as malas e se manda pra lá. Depois vem a fase da descoberta . Tudo é tão gostoso que nos faz querer viver ali por tempo indeterminado. Até que - num dia qualquer - enquan...
Ontem a sessão de análise foi diferente. Iniciei contando coisas boas, avanços íntimos e novidades empolgantes. Desembestei a falar por uns vinte minutos com uma energia e um vigor que normalmente eu não tenho (na verdade, não tenho tido). Ao fim, concluí que algumas dificuldades encontradas ao longo do percurso revelaram-se como um jeito torto de vencer. Meu analista me questionou o que seria o "torto" para mim e, depois de minha explicação, me devolveu um silêncio desconfortável. Após alguns segundos (ou minutos que pareceram horas), eu soltei: "É, hoje eu só tenho coisas boas para falar". Silêncio novamente. Até que ele começou: "Flávia, por que você acredita que esse espaço aqui é só para trazer coisas ruins? Se fosse em uma sessão presencial, só esses 20 minutos iniciais teriam sido o suficiente e eu teria te cortado e dispensado em seguida". Fiquei sem entender. O feedback que ele me deu na sequência sobre o meu processo de análise foi bem positivo...
Minha questão paradoxal com a comunicação é velha. Nunca tive problemas para escrever, ao contrário. Já com o falar... O buraco sempre foi mais embaixo. Então, o que me sobra em palavras escritas, me falta em faladas. Tudo começou (ou pôde ser mais facilmente percebido) durante a primeira infância, na escola. Enquanto pais de outros alunos eram chamados por conta de brigas e outras encrencas, muito comuns nessa fase, minha mãe foi notificada algumas vezes sobre o meu silêncio. Sim. Eu simplesmente quase não falava. Lembro de ter feito algumas tentativas de entrosamento, todas frustradas. As meninas me ensinavam brincadeiras cujas regras eu esquecia e acabava perdendo e ficando triste e ainda mais amuada. Meninos riam de mim e faziam bullying com meu segundo nome e provavelmente outros motivos dos quais não consigo lembrar agora. Mas eu acho que isso não me tornava mais engraçada ou interessante, pois lembro que eles logo paravam porque eu não os enfrentava de modo algum. Meu silêncio d...
Comentários
lembrei-me
de Clarice...
Poesia por acaso
Sem inspiração
estou agora.
Tento atiçar a imaginação
mas ela demora.
Não consigo pensar em algo
que faça rimas.
É como querer acertar o alvo
com a flecha apontada para cima.
Não acho um bom assunto
que se organize bem em versos.
Mesmo sabendo que no mundo
há mil assuntos diversos.
Que coisa chata,
não consigo imaginar.
Isso quase me mata,
porque é horrível não poder pensar.
Mas espere um momento,
mesmo não tendo um tema,
se estas frases vou relendo,
vejo que é um poema!
Clarice Pacheco.
Animo!!