Novas pegadas
E foi naquele início de tarde, de uma segunda-feira com cara de domingo, que ela sentou na frente do computador com um intuito: fazer uma triagem nas redes sociais, enviar um e-mail a uma velha amiga que mora em Portugal e escrever um post como há muito não conseguia.
Naquele dia vazio, com a mente cheia de ideias, ela decidiu buscar a si. Porque ninguém mais, por mais velho e experiente, e por melhor que fosse o conselho, poderia fazê-lo.
Chega um momento da vida em que buscar a mudança deixa de ser promessa de ano novo e se torna condição para ser feliz. E por mais que lhe dissessem que pessoas não mudam, era aquela a única certeza que ela precisava ter para deixar no solo as próximas pegadas.
Não, não era drama. Nem autopiedade. Ela detestava ambos. Tampouco demagogia. Era genuína vontade de se fazer feliz, pelo que se é, não pelo quê ou por quem se tem. Saber se viver, se respeitar, se amar. E alimentar comportamentos autodestrutivos, já tinha comprovado: não era a saída.
O que lhe havia adiantado um post dizendo que 'solteirice' não era se colocar numa vitrine, que não valia a pena beber pra esquecer e voltar pra casa porre e sozinha, se foi exatamente o que ela fez?! Aguentou o primeiro mês. Aguentou o segundo. No terceiro, caiu em contradição. Justamente quando julgava estar no processo final da cura.
Cura. Mas cura de quê? Do término do casamento? Da frustração de não ter vingado um relacionamento adolescente, sem eira nem beira, que sabia que não duraria? Óbvio que não. De si, era do que deveria se curar. Custou, mas finalmente entendeu que ela sempre fora seu maior desafio. Pra isso precisou perder a medida da razão, caminhar à beira do abismo, refugiar-se em um imenso buraco negro.
Eram os mesmos comportamentos de sete anos atrás. Só que com um agravante: ela já não tinha mais 20 anos.
[...]
Mas, na tarde chuvosa de segunda com cara de domingo, decidiu fazer diferente. E daquela vez, sem alarde. Primeiro para não precisar ouvir os desincentivadores comentários dos desacreditados. E segundo, porque a pessoa a quem de fato cabia a decisão já estava ali, travando o mais conflituoso diálogo de uma vida.
E uma única certeza: se não dá pra apagar 2012, que os próximos dois meses sejam suficientes para limpar a poeira, fazer uma varredura nos ciclo de amizades, juntar grana e começar 2013 de cara nova e sem dívidas internas.
Comentários
Bela verdade o que você escreveu, apesar da difícil aplicação. Eu devo ser mais um desses desacreditados, que às vezes fica desacreditado por muito tempo. E como dizem vários amigos meus, "homem não funciona sem mulher" (e a afirmação é grave/séria). Quando vem o momento, geralmente o bar e o papo desacreditado são a regra. Você tem razão, mas Reginaldo Rossi é mais fácil.
Beijos, Fla! =)
O texto pega na moda atual de tanta gente desencontrada a procura de algo ou alguma coisa que as faça inteiras.
Lis.
Um abraço moça e boa sorte com as suas re-evoluções.