Como escrevo?!
Em plena quarta-feira, à noite, após um dia tumultuado, cheio de obrigações, compromissos, trânsito caótico, calor infernal e mais alguns problemas adicionais, meu professor de Redação Jornalística me aparece com esse trabalho valendo ponto: escrever sobre como escrevo. É mole? Se eu fosse o Chaves e ele o professor Girafales, entregaria uma folha de papel com a frase “escrevo com a mão”. Mas como ele é bom professor e eu boa aluna (isso não é tática para garantir minha nota), vou me dispor a tentar.
Escrever sobre escrever parece fácil. Mas sendo trabalho de classe, passa a ser obrigatório e ao se tornar obrigatório, começa a ficar difícil. É sempre assim. Comigo, pelo menos. Não costumo escrever sob pressão e isso é um problema para quem deseja tanto seguir a carreira de jornalismo. Por outro lado, será que um jornalista realmente escreve sob pressão ou ele ama tanto o que faz que o texto flui naturalmente? São tantas perguntas! Talvez eu nem saiba responder a desde trabalho: “como você escreve?”.
Não sei se escrevo bem ou mal ou em que estilo jornalístico me enquadro. Bom, gosto de escrever crônicas. Se são boas ou não, aí já precisaria da opinião de um mestre, um crítico ou mesmo de um bom leitor. Leio bastante. Isso eu sei fazer muito bem. Não devoro livros como muitos fazem - ou dizem fazer - mas leio desde placas espalhadas pela rua até bula de remédio. Leio rápido, presto atenção nas entrelinhas e sintetizo bem as informações (ponto pra mim!). Ler vai muito além de decodificar signos, símbolos. Ler é interpretar a vida. E quem interpreta bem a vida, tem muito mais chances de aprender a escrever bem.
Afinal, que diabos é escrever bem? Um advogado escreve laudas e laudas repletas de linguagem pesada, sem tempero algum, nada atraentes ao ser humano comum. Um economista analisa índices econômicos divulgados regularmente. Isso é escrever bem? No primeiro e no segundo caso, gramática e ortografia não são prioridade. Porém, as informações interessam à sociedade e interferem diretamente em nossas vidas. Portanto, digo que sim, é escrever bem. Afinal, todos os bons escritores, poetas, cronistas, seguem à risca as regras da língua? Um dos meus maiores ídolos, Luís Fernando Veríssimo, considera-se “gigolô das palavras”. Preciso ainda responder?
Creio que para julgar se alguém escreve bem, é preciso antes saber a que público-avo o autor se destina e quais as intenções de publicação. Um exemplo: Paulo Coelho é considerado pela crítica como um escritor rasteiro, repetitivo, que usou a imagem psicodélica da alquimia e a história de vida para escrever sobre magia, religião, loucura e conseguiu conquistar fãs no mundo inteiro, das mais variadas culturas, faixas etárias, credos e classes sociais. Na minha opinião, isso é escrever bem. Independente de qualquer critério, ele alcançou seu público-alvo. Mais do que isso, ele formou um próprio.
Escrever bem é tocar. Sim, tocar! Como uma música. Talvez por isso o nome dado à arte de saber tirar som de um instrumento musical seja tocar e não “musicar“. Quem verdadeiramente toca, alcança a alma do ouvinte. Com a escrita é assim também. Quem verdadeiramente escreve, alcança a alma do leitor a quem se destina. Para mim, Clarice Lispector é a melhor escritora do mundo, pois me toca profundamente com seus textos. Já cheguei ao cúmulo de lê-la como se estivesse lendo algo que eu mesma penso ou já pensei. É mágico.
Se escrever bem é alcançar o público alvo e eu ainda não tenho um; se é publicar informações de interesse social e eu escrevo para mim mesma; se não sou nenhuma “expert” em morfologia, gramática, sintaxe e etc; se nem diploma universitário ganhei ainda; o que dizer de mim? Como escrevo? Tomando como base esta crônica, alguém se habilita?
Comentários
Se por acaso, para si, a minha opinião tem algum valor... Continue a escrever, porque você escreve muitíssimo bem Escarlate.
Quando alguém que escreve como você escreve, me diz que eu toco... Acho que foi o maior elogio que alguma vez já me fizeram! De facto aqueles dois textos são meus, embora o meu nome não seja maria soares, mas gabriela simão. O motivo de não assinar e ter adoptado um (por assim dizer) pseudónimo, prende-se com motivos pessoais, muito extensos para os explicar agora. Mas sim, tenho que escrever, faz-me falta da mesma maneira como me faz falta respirar, da mesma maneira como um ser precisa de água, de comida, da mesma maneira como um coração tem que bater... Eu tenho que escrever, não interessa se escrevo muito, pode ser um livro ou simplesmente uma linha. Só preciso é de escrever-me. Sei que me entende. Um beijo muito grande, gabi