Círio outra vez
Pe. Fábio de Melo


Quando a vida faz nascer o mês de outubro
Eu descubro uma graça bem maior
Que me faz voltar no tempo e ser menino
E ao som do sino ver a vida amanhecer


Ver o povo em procissão tomando as ruas
Anunciando que é Círio outra vez
Que a Rainha da Amazônia vem chegando
Vem navegando pelas ruas de Bélem


Corda que avança o corpo cansa
Só pra alma descansar
É o meu olhar chorando ao ver o teu olhar em mim
Tão pequenina na Berlinda segues a recolher
Flores e amores que o teu povo quer te dar


Ó Virgem Santa, teu povo canta
Senhora de Nazaré!
Tu és Rainha e tens no manto as cores do açaí
Soberana e tão humana tão mulher
Tão mãe de Deus
Nossa raça, nosso sangue
Descendência que acolheu
O mistério encarnado continuas revelando

E por isso hoje é Círio outra vez.







À Nossa Senhora de Nazaré 
À minha vozinha querida



Já sinto o cheiro das flores do manto. A cidade se prepara com os mais belos enfeites e o coração repleto de amor para recebê-la. É outubro, o mês mais lindo do ano, quando louvamos a Deus através da graça de Nossa Senhora de Nazaré.
O Círio é a maior manifestação religiosa da América Latina, quando saudamos nossa mãezinha, virgem santa. Uma forte lembrança acaba de me cruzar os pensamentos, me fazendo chorar: eu na trasladação do ano passado, acompanhando a santinha e chorando ao ouvir as músicas do Padre Fábio de Melo, chorando ao ver a santa mais de perto, chorando ao lembrar do meu tio Adélio que havia falecido há pouco tempo, ao pensar que no ano seguinte (este) eu poderia não ter mais por perto toda minha família unida, com saúde.
Uma dor muito forte me invade enquanto escrevo. A lembrança de minha vozinha ainda está muito viva, penso nela constantemente. Não sei se agüentarei cobrir o evento sem chorar. Aliás, eu sei. Eu não vou. Mesmo  detestando chorar em público (ainda mais no trabalho), sei que vou me debulhar em lágrimas lembrando dela.
Vozinha era devota de Nossa Senhora de Nazaré, Nossa Senhora das Graças, na verdade todos os santos lhe apeteciam. Era bastante religiosa, tinha uma fé inabalável e conseguiu transmiti-la a mim – já quase no fim de sua vida. Ainda bem que ela pôde acompanhar minha “transformação” – de mulher incrédula, agnóstica, para mulher católica apostólica romana fervorosa.
Este ano meu Círio não será completo, mas será feliz, apesar de tudo, pois sei que ela não gostava de me ver triste. Vou louvar ao Pai e à Mãe com toda minha fé e alegria. Era assim que ela gostaria que fosse, portanto é assim que será.
Vozinha, dedico esse post primeiramente à Nossa Mãe de Nazaré e em segundo lugar à Senhora, que tanto amo e que me faz tanta falta. Jamais esquecerei de onde vim e tudo que aprendi com a senhora. Como a senhora dizia, sempre que eu me despedia na hora de sair de casa, “vá em paz e que Nossa Senhora lhe cubra com Seu divino manto”.


Comentários

Gabi disse…
Minha querida, além de ter adorado o poema adorei igualmente o teu texto sobre a vózinha. Como te compreendo... Também perdi a minha, (já lá vão vinte anos), que foi a minha mãezinha querida. Criou-me. Embora analfabeta, foi quem me educou, e muito bem. Ensinou-me a respeitar o próximo, ensinou-me que a minha liberdade termina onde começa a tua. Mulher extraordinária, começou a morrer no dia em que morreu o seu único filho, (meu pai, com apenas 38 anos), e foi enterrada tres meses depois. Que Nossa Senhora da Nazaré fique a tomar conta de nossas Avós. BEIJO MUITO GRANDE AMIGA
Gabi disse…
Amiga, tenho pena de nunca mais ter tido novidades tuas! de qualquer forma entendo que deves andar muito ocupada com o teu trabalho. E vim te convidar para visitares o meu novo blogue bipolaridades. AQUELE BEIJINHO ESPECIAL.

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