A porta
Foi em meio ao tédio de um dia totalmente ordinário, que minha mente - sempre furtiva e inquieta - me pregou uma peça. Pelo menos era isso que eu pensava. Primeiro tive uma visão bastante aleatória, quase como uma lembrança, dessas que nos tomam assim de repente. Era uma porta. Aberta. Com uma riqueza de detalhes tamanha que senti vontade de desenhá-la. Mas eu nunca tinha sido do desenho. Era das letras. Escritora amadora, mas raiz, dessas que carregam sempre consigo uma caneta e um bloquinho pra cima e pra baixo. Aliás, como eu era cuidadora de idosos, frequentemente me sobrava tempo para escrever, quando eles pegavam no sono. Naquela noite, entretanto, o meu foco era uma vontade incontrolável de contornar, preencher, colorir. Me senti novamente com 8 anos de idade, na época de comprar material escolar. Dona Orlandina, uma simpática senhorinha de 87 anos de quem eu cuidava, tinha acabado de se recolher. Fui até a porta de seu quarto, dando uma rápida espiada para ver se estava tudo be...