Art nouveau da vida
Estranho. Incomum. Tudo mudou e eu estou aqui, seguindo a maré. Sem medo de cair do barco ou de ser levada para algum lugar distante, desconhecido. Aprendi a navegar, finalmente.
Local de trabalho, família, amigos, relação. Não sei. Tudo é o mesmo de sempre, mas me parece diferente. Um mês no emprego novo, quase dois de separação, alguns amigos se afastaram (naturalmente), outros muito especiais surgiram, entrei em contato com outros de antigos carnavais.
Mudança de rotina, de vida. Novas cores. Não sei até que ponto (des)gosto disso. Sempre tive muita dificuldade em enfrentar coisas novas, virar a página. Acontece que, dessa vez, a questão não é a novidade (até porque o processo, que já foi vivido, trouxe coisas boas e ruins) e sim como estou lidando com ela. Aliás... isso é surpreendente: eu estou lidando com ela! Milagre. Ou amadurecimento?
Até o simples fato de estar abrindo um pouco minha vida aqui já me faz uma pessoa diferente. Não tenho mais pavor de julgamentos. Muito pelo contrário, os prefiro ao invés do venenoso silêncio de alguns.
Ainda sou discretíssima, mas não mais por vergonha de me expor. Ontem, na sala de espera do hospital, discuti com um rapaz desconhecido por achar que ele estava errado. (ele chegou depois com a namorada e só porque conseguiu pegar a primeira senha - na nossa frente - queria que ela fosse logo atendida). Me surpreendi quando levantei da cadeira onde eu pacientemente (mentira! já balançava os pés de raiva) aguardava minha vez e fui até o rapaz, olhei bem nos olhos dele e comecei a discussão. Falei, mesmo sentindo meu sangue ferver, minhas mãos geladas e o coração palpitando de raiva, nervoso, sei lá o que. Só ouvia a voz de fundo do papai: "Filha, te acalma. Já resolvi tudo na diplomacia". Logo eu que preferia voltar pra casa com o desaforo a abrir a boca.
Nunca mais tive tempo (ou inspiração) para escrever minhas crônicas. Agora escrevo todos os dias uma pauta diferente, pro trabalho. Quando tenho tempo, escrevo e-mails e comento em blogs. Ultimamente é o máximo que tenho feito em termos de escrita. Sinto falta de como era minha vida há algum tempo? Em partes. A rotina era mais leve, porém menos divertida. Menos cansativa, porém menos gratificante também.
Quero algumas coisas de volta ("e sonhos não envelhecem..."). Com relação a outras, foi bom tê-las tido, somente. Não encaixariam mais. No mais, é bom saber que as coisas mudam e eu já consigo lidar com isso - sem noiar.
Ciclos que abrem e fecham, constantemente, em nossas vidas. Idéias que surgem, planos, metas alcançadas. Amor, trabalho, família, amigos, investimento, saúde, prazer, diversão. Muita coisa pra administrar, todas em constante movimento - como vários cataventos girando nas mãos de uma criança. Cada um com uma velocidade, tamanho e cor diferente. Exatamente como a vida.
Comentários
Eu tô precisando tomar um chazinho de amadurecimento tb, rs!
E adorei q vc discutiu com o tal rapaz, é das minhas! hahahahaha eu não consigo ver uma coisa errada e ficar calada não! Falo mesmo!
e eu amei a imagem desse post, dá vontade de morar nesse lugarzinho cheio de cataventos, rs!
beijo
Imagino que deve ser apenas uma questão de tempo e passado esse tempo de localização e pressão diante das mudanças você estará muito bem. E depois é bom lembrar-te que as pessoas tem medo de tudo o que se expande.
Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.
Bertolt Brecht.
Enfim, estresses à parte, eu também queria morar num lugar assim, cheio de cataventos! Eles me representam paz, harmonia, em meio a tantas cores vivas e em movimento. beijinhos! :)
Quando lhe disse a primeira vez que crescer doía, você chorou no meu colo, lembra!? Eu, sim. Você tinha um monte de espinhas no rosto, um guarda-roupa cheio de roupa rosa e morava num castelo". Chegou a sua vez de abandonar a época da inocência. O melhor disso é que é bom do mesmo jeito. Cada fase da vida nos revela dificuldades e prazeres que são só delas. E você, pouco a pouco, vai descobrindo isso.
E vivendo. E amadurecendo. E vivendo...
Beijinhos letrados, flavitcha!
eu fico quietinha, mas se vejo coisa errada, falo mesmo!
em fila de banco então... adoro ficar catando os idosos e mandando tudo lá pra frente! é direito deles, né? e tem uns, tadinhos, que não querem ir pq tem medo do povo achar ruim. aí eu pego pela mão e levo e digo: quem vier brigar com os senhores manda vir brigar comigo, oras! kkkkkkkkkkkkkkkkk
eu sou zuadenta mesmo! :P
Beijo
Venho em resposta ao seu comentário apenas dizer-lhe que também quero em paralelo as mesmas coisas simples que tens, que valoriza, e que as tenho.
A verdade é que nunca foi problema ser simples, e sim conviver com a maioria das pessoas que nos cercam. Você já deve ter visto que há muitos momentos em que fica difícil se fazer entender. É algo como quem fala português corretamente e o outro fala japonês. Aquele seu lance do hospital exemplifica bem isso...
Infelizmente qualquer pessoa que almeja suspender o seu nível de conhecimento, que passa a estudar além do que os outros pararam, termina por afastar-se da maioria das pessoas.
O fato se dá ao adquirirmos consciência mais larga, mais abrangente, e dessa forma passamos a enxergar com mais clareza a indole de cada um. E certo é que a solidão passa automaticamente a fazer parte integrante do cardápio.
Apenas por defender-se se faz necessário entrar nas complicações, não porque você as queira, mas porque a maioria das pessoas perderam durante o processo de crescimento aquela antiga beleza e simplicidade original da infância ao permitirem-se contaminar pelas mazelas do mundo.
Boa semana à ti Flávia.