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Mostrando postagens de maio, 2009

A razão

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Já fez um mês e 4 dias que ela se foi, minha vozinha. E ainda não consigo acreditar. Nunca aceitei o fato de que esse dia - inevitavelmente - chegaria. E mesmo nos momentos de maior lucidez - quando me permitia pensar na hipótese - sempre achava que ainda não estava perto. "Quando eu for para os Estados Unidos...", ela dizia. E eu sempre retrucava: "A senhora não é nem doida!" Gostava de compará-la à Dercy Gonçalvez, de vê-la tão ativa cozinhando, conversando com a família, indo a festas, novenas... Tenho foto dela no meu aniversário de 23 anos, que foi num videokê (local fechado, com fumaça de cigarro entranhando em tudo quanto é póro e música altíssima)! Por aí dá pra imaginar como ela era, não é mesmo? 86 anos de muita, mas muita palhaçada. Vovó era gaiata que nem eu. Aliás, sou gaiata que nem ela! 1º de abril ela pegou todo mundo lá em casa, menos a mim. Eu a enganei! Hahahaha! Preciso guardar todas essas boas lembranças para momentos como esse, quando a saudad

Cor-respondência

Remeta-me os dedos em vez de cartas de amor que nunca escreves que nunca recebo. Passeiam em mim estas tardes que parecem repetir o amor bem feito que você tinha mania de fazer comigo. Não sei amigo se era seu jeito ou de propósito mas era bom sempre bom e assanhava as tardes Refaça o verso que mantinha sempre tesa a minha rima firme confirme o ardor dessas jorradas de versos que nos bolinaram os dois a dois Pense em mim e me visite no correio de pombos onde a gente se confunde Repito: Se meta na minha vida outra vez meta Remeta. (Elisa Lucinda)
"O que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão." (Clarice Lispector)

Poesia Matemática - Millôr Fernandes

Às folhas tantas do livro matemático um quociente apaixonou-se um dia, doidamente, por uma incógnita. Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a, do ápice à base. Uma figura ímpar; Olhos rombóides, boca trapezóide, corpo otogonal, seios esferóides. Fez da sua uma vida paralela a dela, até que se encontraram no infinito. "Quem és tu?" indagou ele, com ânsia radical. "Sou a soma dos quadrados dos catetos. Mas pode me chamar de Hipotenusa." E de falarem descobriram que eram - o que, em aritmética, corresponde a almas irmãs - primos-entre-si. E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz Numa sexta potenciação, traçando, ao sabor do momento e da paixão, retas, curvas, círculos e linhas sinoidais. Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas e os exegetas do universo finito. Romperam convenções newtonianas e pitagóricas. E, enfim, resolveram se casar, constituir um lar. Mais que um lar, uma perpendicular. Convidaram para padrinhos o Poliedro e a Bissetriz. E f

À minha vozinha linda

Gostaria de dedicar este blog à minha vozinha Olívia, que tanta falta tem me feito... De onde ela estiver, espero que saiba o quanto a amo e espero que esteja feliz. Lembro todos os dias de suas histórias, piadas, truques, orações, comentários, canções, alegria, costumes, lucidez. Vozinha, te amo pra sempre! Sua benção!